13 Abril 2025
O artista angolano Bonga, de 82 anos, que encerrou o palco do Kriol Jazz Festival (KJF) na cidade da Praia, capital de Cabo Verde, disse que chegou a altura de dedicar mais tempo à sua vida pessoal.
"Eu tenho uma carreira e, às vezes, nem tenho tempo para mim, o que é mau. Vou trabalhar, mas chega uma altura em que digo: 'não quero ir ali, agora já não faço mais oito horas de voo, o avião chateia-me, estraga-me o look'", referiu o artista, entre risos, aos jornalistas.
O músico regressou à cidade da Praia após vários anos de ausência e, no concerto que se prolongou pela madrugada, destacou a longevidade da sua carreira e a forte ligação ao público cabo-verdiano.
"Estar em sintonia com as coisas que fazem parte da raiz, isso é fundamental", considerou.
Bonga, no entanto, referiu que, embora a vida artística continue e as pessoas o solicitem constantemente, está agora numa fase em que prioriza o tempo pessoal.
"Eu não posso fazer tudo. Estou numa fase em que gosto de comer o meu bom prato", afirmou.
Bonga aproveitou ainda para expressar críticas à falta de reconhecimento das gerações que, na sua opinião, deram um grande contributo para a libertação e afirmação cultural dos países africanos.
"A geração do meu tempo, que a maior parte já morreu e morreu desiludida, penalizada, eu tenho a responsabilidade de trazer música e poesia que retrata a vivência dessas pessoas que deram um tremendo contributo e não foram nem tidos nem achados", referiu.
"Ontem o colono era um, hoje são outros. E eu fico zangado com isso", afirmou, lamentando o que considera ser uma tendência de hipocrisia e esquecimento.
"Quando temos um estrangeiro que nos dá umas promoções, a gente esquece automaticamente da vivência das grandes pessoas das nossas vidas. Isso é que é triste", acrescentou.
O músico destacou a "cumplicidade" com o público no Kriol Jazz Festival e a importância de um evento dessa dimensão acontecer num país africano de língua portuguesa, reforçando os laços culturais entre as nações.
Bonga ainda recordou Djunga Biluca como "um grande senhor para a África", figura central da música cabo-verdiana na diáspora, responsável por gravar mornas e coladeiras, além de impulsionar a divulgação da cultura de Cabo Verde a partir da Holanda.
Quanto ao "tempero" das suas músicas, o cantor apontou a herança oral e a criatividade ancestral como fontes de inspiração.
"Essa imaginação criativa, dos velhos do antigamente, fica nas nossas cabeças para recordar e dar alento a todas as situações possíveis", afirmou.
"O segredo é a continuação da life", disse, encerrando a conversa.
À beira de completar 83 anos, Bonga – José Adelino Barceló de Carvalho – continua a subir aos palcos, trazendo ritmos e letras que tanto animam como exprimem as aspirações populares.
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